Quem nunca foi ao banco e acabou recebendo uma “excelente proposta” do gerente que atire a primeira pedra.
Desde o momento da abertura da conta até momentos em que há dinheiro sobrando para algum investimento ou precisa-se de dinheiro emprestado, o gerente está lá, sempre atento e solicito, com alguma “solução” na mão.
Porém, com o aumento da concorrência no sistema financeiro e o o surgimento de corretoras de investimentos e fintechs, em paralelo com o crescimento das iniciativas de educação financeira, fica evidente que essas tais “soluções” muitas vezes acabam sendo um bom negócio para o banco, e não para os consumidores.
Porém, infelizmente, ainda há muito desconhecimento sobre os produtos e serviços por parte da população e, muitas vezes acaba-se criando uma relação de muita confiança na figura do gerente. Propositalmente, este profissional é escolhido e treinado para ter habilidades comerciais muito boas, sendo simpático e solicito, criando até, às vezes, a impressão de ser quase um amigo. Porém, trata-se exatamente de um cargo comercial comissionado, com metas a serem batidas, e, consequentemente, o profissional precisa vender os produtos e serviços que façam as metas serem alcançadas.
Uma das primeiras tentativas de empurrar estes produtos e serviços se dá logo na hora da abertura da conta. O gerente acaba tentando vender cestas de serviços que contemplam itens que o correntista nem precisará. E, em paralelo, a modalidade de conta de serviços essenciais, que não possui tarifa, e, por exigência do Banco Central (resolução 3.919, de 2010) deve ser oferecida pelos bancos, acaba nem sendo mencionada.
Logo de cara, outros quatro produtos já costumam ser oferecidos: cartão de crédito, limite de cheque especial, seguros e títulos de capitalização.
No caso dos seguros, o gerente costuma oferecer o produto do banco. O seguro de vida é uma modalidade muito importante e que deve ser considerado principalmente para quem tem dependentes. Porém, essa análise deve levar em conta justamente como o seguro funciona e quais os benefícios. No caso dos bancos, muitas vezes empurra-se um seguro com coberturas muito abaixo do que outras apólices similares que existem no mercado.
No caso do cartão de crédito e do cheque especial, tratam-se de categorias de crédito, ou seja, do recebimento de dinheiro emprestado. O problema não é no produto em si, mas na taxa de juros. São as modalidades de crédito com as maiores taxas e o gerente muitas vezes empurra-os com altos limites e sem explicar efetivamente como eles funcionam - deixam a impressão de que é um dinheiro a mais que a pessoa tem. Usados sem planejamento e entendimento, acabarão resultando em prejuízos aos correntistas.
No caso do título de capitalização, muitas vezes a conversa e a explicação fazem com que ele se pareça com um investimento, ainda com as chances de ganhar prêmios. Porém ele é uma forma simples de guardar dinheiro, o que mostra que a capitalização é um dinheiro para jogo. Ao contrário da loteria, o dinheiro até é devolvido, porém, muitas vezes não há liquidez, e o cliente precisa esperar um tempo considerável para reaver o valor, ou então ter que pagar taxas para resgatar com antecedência.
O simples fato do gerente ser simpático e especialista em finanças não resulta no melhor atendimento para as finanças do cliente. É melhor que você busque informações sobre o que está sendo oferecido para não cair nas armadilhas. Fique sempre atendo ao que está sendo oferecido e tenha o Código de Defesa do Consumidor debaixo do seu braço!
Victor Barboza é especialista em finanças pessoais e gestão financeira de pequenos negócios. É voluntário da Bem Gasto e fundador da GFC - Gestão Financeira Criativa.
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