Falar sobre acesso é também falar sobre equidade e dinheiro. Mas antes de apresentar meus argumentos, gostaria de destacar alguns marcos das mulheres ao longo da história:
1879: As mulheres foram autorizadas a cursar o ensino superior - mas eram criticadas pela sociedade
1887: primeira brasileira recebeu o diploma de ensino superior
1932: A mulher teve direito ao voto
1951: Aprovada a igualdade de remuneração entre trabalho masculino e feminino para função igual
1960: As mulheres conquistam o direito reprodutivo com o surgimento da pílula anticoncepcional, permitindo maior liberdade sexual
1962: Com o estatuto da mulher casada, a mulher deixou de ser considerada civilmente incapaz e não precisaria mais a autorização do marido para trabalhar, receber herança e, em caso de separação, ela poderia requerer a guarda do filho
Para fundamentar meu ponto de vista, também apresento alguns dados atuais:
· A renda média do homem brasileiro era de R$1.508,00 em 2015, enquanto a da mulher era de R$938,00. Mantida a tendência dos últimos 20 anos, as mulheres terão equiparação salarial em 2047, de acordo com a OXFAM Brasil
· Temos menos mulher na política que o Afeganistão. Mulheres negras representam menos de 1% desse contingente
· De cada quatro mulheres agredidas, uma não denuncia o agressor porque depende financeiramente dele, aponta o Instituto Patrícia Galvão
· 80% das mulheres seguem em profissões como professoras, manicures, funcionárias públicas, ou serviços de saúde, mas maior concentração está nos serviços domésticos remunerados. Essas, maioria negras e com baixa escolaridade. O total de mulheres no trabalho precário e informal chega a 61% e entre os homens, 54%. A mulher negra tem taxa de 71% superior a dos homens brancos, e 23% delas são empregadas domésticas.
DEPENDÊNCIA FINANCEIRA
A dependência financeira é um obstáculo que atinge as mulheres historicamente.
No Brasil, quando pensamos que há pouco mais de 50 anos, mulheres casadas precisavam de autorização do marido para trabalhar, o cenário atual parece bastante favorável. Porém, ainda encontramos inúmeros obstáculos.
A falta de oportunidade equânime do mercado de trabalho, a cultura que coloca a mulher como a responsável pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos filhos, atrelado à baixa autoestima, também resultado de um patriarcado cruel e a uma educação escassa, contribuem para que muitas das mulheres não denunciem e consigam sair da casa a qual ela está sofrendo a agressão, ou seja, ela acaba ficando em uma situação de risco por conta da sua sobrevivência.
Você já ouviu falar sobre violência patrimonial? É o ato de controlar, reter ou tirar dinheiro; causar danos de propósito a objetos de que ela gosta; destruir, reter objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais e outros bens e direitos.
A IMPORTÂNCIA DE COLOCAR O DINHEIRO NAS MÃOS DE UMA MULHER
O empoderamento financeiro atrelado ao acesso ao conhecimento técnico e ao autoconhecimento contribui positivamente para redução de indicadores de violência e melhoria na qualidade de vida de uma mulher e do seu entorno. O empreendedorismo pode ser um caminho.
Uma pesquisa do SEBRAE já mostra, por exemplo, que de 2001 a 2011, o número de mulheres empreendedoras cresceu 21%, enquanto o de homens cresceu apenas 9%. Além do mais, segundo outro estudo, da Serasa Experian, até 2016, 43% de todos os negócios no país já eram comandados por mulheres. Além disso, ambientes corporativos, muitas vezes hostis, acabam por impulsionar o empreendedorismo feminino
14% de todas as empreendedoras procuram empreender como forma de conciliar o trabalho e a família
Para mudanças legítimas, precisamos provocar e questionar diferentes aspectos da sociedade como por exemplo educação, linhas de crédito, crenças e valores do papel da mulher, educação financeira como um todo. O quanto o que é ofertado é pautado dentro de uma lógica masculina para um mercado masculino e machista?
Apoiar o negócio de uma mulher é uma forma de contribuir para uma transformação sistêmica. É romper lógicas históricas que também alimentam a desigualdade.
Algumas perguntas para refletir:
· Quanto das suas compras são direcionadas para negócios tocados por mulheres?
· Quanto você estimula as mulheres ao seu redor a se organizarem financeiramente?
· Quantas vezes você, mulher, escutou que mulher não sabe gerir bem o dinheiro?
· Quantas vezes você escutou que você não daria conta?
Finanças femininas e feministas provocam mudanças de posturas que transformam culturas e isso salva vidas.
Julia Drezza
Gerente de Sustentabilidade da Mais Fácil
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