Quando vemos a palavra “perigo” sinalizada em algum lugar, sabemos que há risco de algum acidente ocorrer. Vira e mexe vemos placas alertando perigo de altas tensões, radiação, gás inflamável. Basicamente são alertas à saúde física das pessoas. Neste artigo, traremos alerta a algo um pouco diferente: a saúde financeira.
Na última quarta-feira, 24 de julho, o governo anunciou algumas mudanças na política para o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), e para as cotas do fundo PIS-Pasep.
Para quem já ouviu falar destas siglas mas não está 100% familiarizado, tanto o FGTS como o PIS-PASEP são fundos nos quais os empregadores contribuem mensalmente com um percentual do salário de seus funcionários em fundos. Acabam sendo poupanças construídas para os trabalhadores para protegê-los quando forem demitidos sem justa causa, ou para ser usado na compra da casa própria e tratamento de doenças graves. Ou seja, diante da dificuldade poupadora do brasileiro, estes mecanismos acabam sendo essenciais em situações mais delicadas.
E o que vai mudar?
Será possível ao trabalhador efetuar o saque de até R$ 500 de cada conta que possuir no FGTS, ativa ou inativa. Além disso, a partir de 2020 os trabalhadores terão a possibilidade de fazer saques anuais de suas contas no FGTS. Para conferir todas as mudanças, confira este artigo do G1.
Estas mudanças são uma estratégia do governo para tentar estimular a economia.
Dinheiro na conta! Isso não é bom?
O saque do FGTS tem animado muita gente. Neste cenário com muitos desempregados, a economia patinando e, principalmente, o elevado número de endividados, qualquer dinheiro que entra já é bem-vindo pelas pessoas. Mas é aí que mora o perigo.
Conforme já explicamos, o FGTS foi criado para servir como uma poupança em situações mais delicadas que o trabalhador possa vir a enfrentar. Ou seja, na emergência, é um recurso que está lá para ajudar. Está certo que o rendimento deste fundo é bem baixo, de 3% ao ano (abaixo da Caderneta de Poupança, por exemplo, que paga na faixa de 4,5% ao ano).
Num cenário ideal, onde as pessoas são bem disciplinas e educadas financeiramente, o saque seria muito interessante, pois cada trabalhador aplicaria o dinheiro em um investimento mais rentável. Mas sabemos que no mundo real o ser humano, na maior parte das vezes, não é totalmente racional e disciplinado financeiramente, e, o que antes era um recurso para emergências, pode acabar virando recursos para compras e lazer.
Por isso, para quem for optar pelo saque do FGTS, todo o cuidado e planejamento são fundamentais.
Dicas para um bom uso dos recursos do FGTS
Antes de tomar qualquer decisão em relação ao saque, é importante fazer um levantamento da atual situação financeira. Caso não tenha, faça um orçamento levantando todos os gastos que você tem ao longo dos meses, quais e quanto são as fontes de renda. Levante também se existem dívidas/pendências e poupanças/investimentos.
Para quem tiver dívidas, o recurso do FGTS pode ser bem-vindo. Afinal, dívidas possuem juros, e, quanto antes nos mexemos para quitá-las, mais economia você terá. Para quem tem várias dívidas, busque priorizar as que possuem os juros mais altos (por exemplo, cartão de crédito atrasado e cheque especial).
Para quem não está neste cenário de dívidas, o saque pode ser muito interessante, mas, como mostramos, exige muita disciplina. O ideal é que o recurso seja todo direcionado para algum investimento. Como o recurso é destinado a construção de uma reserva de emergência, que poderá ser necessário a qualquer momento, o grau de risco dos investimentos deve ser mais baixo. Assim, os investimentos de renda fixa, como a própria Poupança (já que rende mais que o FGTS), CDBs, LCIs, LCAs, Tesouro Direto ou fundos mais conservadores são ótimas opções.
E, a disciplina não consiste apenas em realocar os recursos do FGTS em uma aplicação, mas, mais do que isso, buscar só utilizar estes recursos em casos de emergência. No FGTS, por conta das regras e de nem ver esse dinheiro, o trabalhador acabava esquecendo deste valor. Porém, a partir do momento que os recursos viram um investimento próprio do trabalhador, o acesso está muito mais fácil. E, muitas vezes, tirando de pouquinho em pouquinho a pessoa não percebe que a “fonte vai secar”.
Victor Barboza é especialista em finanças pessoais e gestão financeira de pequenos negócios. É voluntário da Bem Gasto e fundador da GFC - Gestão Financeira Criativa.
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