Muitos anos antes de Cristo até o século XVI em alguns lugares do planeta, a maneira que as pessoas faziam comércio era via escambo. Precisávamos trocar bens por outros. Por exemplo, sapatos por ovos e uma galinha, uma consulta no curandeiro por uma vaca e por aí vai.
Agora imagina a situação: a pessoa que produz vasos precisa de um jardineiro. O jardineiro não precisa de vasos, mas de uma mesa nova. Para resolver a equação, o produtor de vasos precisa achar uma pessoa que produz mesas (e que também quer vasos) para pagar o jardineiro. Já deu pra entender que está parecendo uma coisa muito difícil e cansativa. E é aí que entra o dinheiro para facilitar essas trocas.
O dinheiro funciona como um meio de troca para a quase totalidade dos bens e serviços, é uma unidade de conta e podemos soma-lo de maneira intuitiva (tente somar laranjas com maçãs para atribuir valor, é uma tarefa bem difícil). Além disso, é uma reserva de valor. Animais morrem, grãos estragam e vasos quebram, já o dinheiro no máximo fica amassado. A única maneira do dinheiro perder seu valor de maneira drástica é via uma inflação descontrolada, destruindo o seu poder de compra.
O desafio deste artigo é responder à seguinte pergunta: será que o meio de pagamento interfere em como nos sentimos ou como gastamos e poupamos?
Vamos começar pelo escambo. Você e seu vizinho são produtores de leite. Ambos possuem muitas vacas e disputam para ver quem tem a maior quantidade. A primeira coisa que percebemos é que a competição com o seu vizinho é para ver quem tem mais vacas (vulgo riqueza, poupança). Quando o dinheiro foi criado, a poupança não ficou mais visível. A forma de competição virou exibir nossas roupas, joias e carros, ou seja, gastando. Tivemos uma inversão que não incentiva a poupar, e sim, a gastar.
O autor deste artigo acredita que a criação do dinheiro por suas características únicas como fungibilidade, meio de troca, reserva de valor e unidade de conta, foi uma grande invenção da humanidade, facilitando o comércio e o crescimento econômico. Porém, ele contém o efeito contido neste parágrafo que pode prejudicar a poupança, e temos que ficar atentos a isto.
O segundo ponto é o sofrimento de uma transação. Você está precisando de novas roupas e um alfaiate irá costurar várias delas em troca da sua vaca favorita: a Mimosa. Você a amarra e trilha o trajeto ouvindo o sino amarrado no pescoço dela pela última vez. A despedida é triste, afinal você cuidou dela, a alimentou. Você pensou muito sobre essa difícil decisão. É muito complicado abrir mão de bens (ainda mais quando eles são seres vivos). A mesma coisa é válida pro alfaiate que botou muito esforço em cada detalhe da roupa.
Se esta transação fosse feita com dinheiro em uma economia de escala onde empresas produzem os bens e não há apego emocional, haveria menos sofrimento do fechamento do negócio. Assim, o ato de consumir se torna mais fácil.
Agora pense no dinheiro em notas e no cheque em comparação com o cartão de crédito. Quando abrimos a carteira para pagar em dinheiro, temos que pegá-lo na mão, contar e entregar no caixa da loja. Estamos abrindo mão de algo, entregando a alguém. Já o cheque precisamos preencher, assinar e entrega-lo também.
No caso do cartão, apenas o colocamos numa máquina, apertamos algumas teclas, muitas vezes nem checando o valor, e o cartão volta para a gente. Além disso, se for um cartão de crédito pagaremos só no final do mês, ou pior, em 12 “pequenas” parcelas. Parece indolor e ainda ganhamos pontos para gastar em viagens, parecendo um ótimo negócio.
Atualmente, há maneiras cada vez menos indolores de pagar: pulseiras de pagamento e celulares. Apenas passamos eles em um sensor. Não parece que estamos abrindo mão de algo até recebermos a fatura. O dinheiro está cada vez mais abstrato e isso prejudica o ato de poupar.
Uma dica: comece a andar com um pouco de dinheiro e fazer certos pagamentos usando este meio. Você vai se sentir mais incomodado em abrir mão de algo e se pensará mais sobre poupar.
Abaixo deixo um ranking dos meios de pagamentos, do mais punitivo ao que quase não percebemos.
Lista de sofrimento dos meios de pagamento:
1º) Escambo (lembre-se da Mimosa) 2º) Dinheiro vivo e cheques 3º) Cartão de débito 4º) Cartão de crédito 5º) Celulares e pulseira
Para finalizar uma breve reflexão: no filme “O preço do amanhã” o tempo de vida da pessoa é a principal moeda de troca. Você compra uma roupa e perde 1 hora de vida, vende um serviço e ganha 3 horas. Será que neste caso, onde dinheiro é literalmente vida, pouparíamos mais?
Meu nome é Rubens Sanghikian, economista e escolhi me voluntariar na Bem Gasto, utilizando a educação financeira como meio de combate à pobreza e desigualdade social. Neste blog postarei artigos na linha de como podemos utilizar a economia comportamental e políticas públicas para melhorar as nossas finanças. Até mais =D
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